Um dos poetas que mais gosto! Mais completo, direto, indireto, moderno, barroco... Uma mistura de sensações em seus poemas que me faz viajar para outros mundos!
Um trecho de sua obra Caprichos & Relaxos que eu adoro!
"Amei em cheio
Meio amei-o
Meio não amei-o
Arte que te abriga arte que te habita
Arte que te falta arte que te imita
Arte que te modela arte que te medita
Arte que te mora arte que te mura
Arte que te todo arte que te parte
Arte que te torto ARTE QUE TE TURA
A tese segunda
Evapora em pergunta
Que entrega é tão louca
Que toda espera é pouca
Qual dos cinco mil sentidos
Está livre de mal-entendidos?
Atrasos do acaso
Cuidados
Que não quero mais
O que era para vir
Veio tarde
E essa tarde não sabe
Do que o acaso é capaz …
Hoje à noite
Lua alta
Faltei
E ninguém sentiu
A minha falta
DATILOGRAFANDO ESTE TEXTO
Ler se lê nos dedos
Não nos olhos
Que os olhos são mais dados
A segredos
O amor, esse sufoco,
Agora há pouco era muito,
Agora, apenas um sopro
Ah, troço de louco,
Corações trocando rosas,
E socos.
O mar o azul o sábado
Liguei pro céu
Mas dava sempre ocupado
Sorte no jogo
Azar no amor
De que me serve
Sorte no amor
Se o amor é um jogo
E o jogo não é o meu forte,
meu amor?
Tudo dito,
Nada feito,
Fito e deito
Viver de noite me fez senhor do fogo.
A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não!
Este eu mesmo carrego!
Meio-dia três cores
Eu disse vento
E caíram todas as flores
Entre a dívida externa
E a dúvida interna
Meu coração comercial, alterna
Moinho de versos
Movido a vento
Em noites de boemia
Vai vir o dia
Quando tudo que eu diga
Seja poesia
Noite sem sono
O cachorro late
Um sonho sem dono
Furo a parede branca
Para que a lua entre
E confira com a que,
Frouxa no meu sonho,
É maior do que a noite
Primeiro frio do ano
Fui feliz
Se não me engano
Não fosse isso
E era menos
Não fosse tanto
E era quase
Entre os garotos de bicicleta
O primeiro vaga-lume
De mil novecentos e oitenta e sete
A noite
Me pinga uma estrela no olho
E passa
Na torre da igreja
O passarinho pausa
Pousa assim feito pousasse
O efeito na causa
Um pouco de mão
Em todo poema que ensina
Quanto menor
Mais do tamanho da china
Entre a água e o chá
Desaba rocha o maracujá
Duas folhas na sandália
O outono
Também quer andar
Alvorada
Alvoroço
Troco minha alma
Por um almoço
Relógio parado
O ouvido ouve
O tic tac passado
Cortinas de seda
O vento entra
Sem pedir licença
A estrela cadente
Me caiu ainda quente
Na palma da mão
Lua à vista
Brilhavas assim
Sobre auschwitz?
Lua de outono por ti
Quantos sem sono
Hoje à noite
lua alta
faltei
e ninguém sentiu
minha falta
Milagre de inverno
Agora é ouro
A água das laranjas
Coisas do vento
A rede balança
Paulo Leminski
Foto: Dama en Eden Concert - Período Azul - Pablo Picasso
Sem ninguém dentro
Tarde de vento
Até as árvores
Querem vir para dentro
Morreu o periquito
A gaiola vazia
Esconde um grito
Tudo claro
Ainda não era o dia
Era apenas o raio
Lua crescente
o escuro cresce
a estrela sente..."
Paulo Leminski
Foto: Dama en Eden Concert - Período Azul - Pablo Picasso